O artigo no diario frances « Le Monde » apresentado abaixo lembra a extrema divisão sócio-política no Brasil, como em toda a América Latina. No Brasil, as últimas eleições mostraram de forma quase caricatural a tríplice dimensão desta fratura. Por um lado, é regional: todos os estados do nordeste votaram maciçamente no candidato do PT, Fernando Haddad. Até o estado amazônico do Pará, terra de grandes latifundiários, próximo à « bancada ruralista » no parlamento, optou por apoiar o potro de Lula. Todos os outros estados votaram esmagadoramente a favor do candidato de extrema-direita.

A outra divisão é social. A classe média branca afetada pela crise vive aterrorizada por ser rebaixada. O voto deles, o voto de desproteção, deveria trazer-lhes segurança nas ruas e proteger aqueles que permaneceram dos atributos burgueses de uma sociedade ainda marcada pelo estigma da escravidão, que só foi abolida em 1888. A « brutalização dos espíritos » da sociedade brasileira, ou seja, a aceitação da violência como norma social, afeta todos os componentes da população do país.

Finalmente, a terceira divisão é o « lobbyismo ». Entretanto, devemos considerar estes lobbies, neste caso os 3b (balas, bois, Bíblia), como um todo transcendendo as oposições acima mencionadas, ou como uma terceira força, um legado da antropologia brasileira? Os defensores de um estado forte vieram da colonização portuguesa, depois da República positivista, que reprimiu os Canudos de sangue. Os evangelistas aparecem hoje como um exército reacionário, sujeito às ordens de pastores e líderes político-religiosos, como o prefeito do Rio.

Assim, a alegria dos democratas no dia da libertação de Lula da prisão só pode ser compreendida à luz da raiva, até mesmo do ódio, da outra metade da sociedade. Qualquer semelhança com a crise no Chile não seria mera coincidência.

Au Brésil, la contre-attaque de l’extrême droite après la libération de Lula
https://www.lemonde.fr/international/article/2019/11/12/au-bresil-la-contre-attaque-de-l-extreme-droite-apres-la-liberation-de-lula_6018870_3210.html
via Le Monde