O oximoro racismo cordial zomba desses velhos demônios que não podemos ver. Como resultado de uma violência antropológica que pode ser rastreada até as origens do país, que nasceu na violência da escravidão e dos pelourinhos, o racismo é onipresente no Brasil, assim como nos Estados Unidos. Quando os historiadores falam da república « café com leite » do período entre guerras, não estão falando de miscigenação, nem de um « épico mestiço », mas de uma forma de monopólio de poder exercido pelos políticos de Minas Gerais, criadores, e os de São Paulo, vindos das grandes famílias de plantadores de café.
No Brasil, ser negro ou de raça mista significa três vezes o risco de morrer por homicídio. A violência está presente no coração das favelas, muitas vezes controlada por gangues poderosas, e a arbitrariedade do sistema de justiça tende a atingir mais duramente a comunidade afro-brasileira, infelizmente respeitando um aforismo de Molière « dependendo se você é miserável ou poderoso… ».

Fonte Latuef 2018, Brasil247.com
A caricatura de Latuef se amplifica sem desviar uma realidade. A pobreza e a violência sofridas têm uma cor.
« Segundo a síntese do IBGE, podemos reafirmar quem é a população pobre no Brasil ». A pobreza no Brasil tem uma cor, e é hegemonicamente negra », disse o professor Richarlls Martins, que apresentou números: « Do número total de pobres no Brasil, 73% são negros, sendo 38% mulheres negras e marrons e 35% homens negros e marrons. Na pobreza extrema, a população negra é ainda mais importante. Os últimos dados oficiais do governo brasileiro indicam que 77% dos extremamente pobres no Brasil são negros; destes, 40% são mulheres negras e 37% são homens negros ».
O crime cometido contra um jovem congolês perto de um dos quiosques de Copabana traumatizou uma grande parte da sociedade brasileira, que foi brutalmente confrontada com a realidade da violência racista cotidiana. Quatro bandidos espancaram até a morte com bastões de beisebol o homem de 24 anos cujo único crime foi ter tido a audácia de ir e pedir seu devido, ou seja, alguns dias de salário. Podemos compreender plenamente as palavras de Elza Soares: « Não tenho medo da morte, tenho medo da vida, é tão ruim que eu digo a mim mesmo, meu Deus, como eles podem suportar isso? O bom é que um grande número de brasileiros, em uma sociedade cada vez mais dividida, estão dizendo « nunca mais ».