source : https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/coluna-prestes-a-maior-marcha-da-historia-mundial
Portrait du capitaine Prestes en uniforme
https://www.sohistoria.com.br/biografias/prestes/
Na década de 1920, quase três décadas após a queda do Império, os militares voltariam a liderar um movimento para desafiar a ordem estabelecida. O desenvolvimento das cidades e das classes trabalhadoras urbanas, menos sujeitas à influência e ao clientelismo dos « coronéis » (grandes proprietários de terras) do que do campo, e a chegada dos europeus, sensíveis às ideias socialistas e ao sindicalismo, talvez tenha acelerado o processo de desafiar a oligarquia dominante « café com leite ». Os brasileiros utilizaram o termo « café com leite » para se referir ao sistema oligárquico composto pelos grandes produtores de café de Sampa e pelos criadores de Minas que forneceriam presidentes e governadores à « antiga República » (Republica Velha). Os militares, em particular os oficiais subalternos (tenentes e capitães), os « tenentes », muitas vezes das classes trabalhadoras, ao contrário dos oficiais superiores, iam mais uma vez opor-se ao governo e tentar tomar o poder para pôr fim ao « voto de cabestro » e promover um sistema político-administrativo honesto e ao serviço do povo. No plano económico, os « tenentes » defenderam um certo nacionalismo económico e denunciaram o liberalismo. Na sua visão de um Estado forte, a educação gratuita e obrigatória tinha um lugar central. Era necessário « reconstruir um Estado para construir uma nação » (Fausto, 1994.p.314, citado por Cotrim, 1999). A ideia do centralismo democrático foi emergindo gradualmente. Tal como a jovem República Socialista Soviética, eles sentiram que ainda não era tempo de sufrágio universal e que era necessária uma « transição » autoritária para reformar o Estado e a sociedade brasileiros. (op.cit.).
Em 1922, a revolta do forte de Copacabana deu início às rebeliões dos tenistas. 300 homens, liderados por 18 « tenentes », tentaram impedir o Presidente Artur Bernardes de tomar posse. Apesar da resistência heróica, a revolta foi reprimida com sangue. Apenas Siqueiro Campos (que deu o seu nome a uma estação de metro no Rio) e Eduardo Gomes conseguiram fugir.
Em 1924, uma nova revolta, desta vez em São Paulo, liderada pelo General Isodoro Dias Lopes, tentou mais uma vez derrubar Bernardes. Mil soldados bem treinados tomaram posições nos pontos estratégicos de São Paulo. Muitas batalhas se opuseram àqueles que levaram o nome de Coluna Paulista para as forças armadas do governo. Uma violenta ofensiva liderada conjuntamente pelas tropas Leaisistas Paulistas e reforços do Rio de Janeiro forçou os rebeldes de Isidoro Dias a deixar São Paulo para o sul do país, numa tentativa de exportar a rebelião para outros estados brasileiros. A coluna paulista uniu forças com um jovem capitão carismático, Luis Carlos Prestes, a quem Jorge Amado chamou poeticamente de « cavaleiro da esperança » à cabeça da sua coluna. A fusão de duas tropas tenistas deu origem à « coluna Prestes », que viajou durante dois anos quase 25.000 quilómetros no interior do país, tentando converter a população à causa da luta contra a oligarquia, apesar da perseguição implacável das tropas governamentais. Em 1927, a coluna entrou em território boliviano, onde finalmente se dissolveu. Luis Carlos Prestes tornou-se um dos principais líderes do Partido Comunista Brasileiro. Teve de fugir do Brasil para a URSS e regressou ao Brasil várias vezes. Definitivamente amnistiado em 1979, regressou uma última vez ao Brasil. Se todas estas tentativas revolucionárias falharam, as sementes da luta contra a desigualdade permanecem, mesmo que nestes tempos complicados pareçam muito frágeis.
Estatua de Carlos Prestes, desenhada por Niemeyer